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Propostas sobre o transporte e a logística urbana. Uma conferência do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região, Tayguara Helou

Categoria: Matérias

Publicado em 31 out 2019

8 minutos

Propostas sobre o transporte e a logística urbana. Uma conferência do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região, Tayguara Helou

ALEXANDRE ASQUINI

Realizada de 24 a 26 de setembro de 2019 no Transamerica Expo Center, em São Paulo, a Arena ANTP 2019, o novo formato do congresso bienal da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), do Brasil, abriu espaço para o debate do transporte rodoviário de cargas e logística. A reformulação do congresso criado em 1978 foi promovida por meio de parceria da ANTP com a OTM Editora, que publica esta este web site jornalístico Mobilitas, e a MFontana Promoções.

No último dia da Arena ANTP 2019, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), Tayguara Helou, fez uma conferência em que apresentou 12 propostas para o abastecimento urbano na Região Metropolitana de São Paulo e cidades próximas, num total de 50 municípios que compõem a base do sindicato. As propostas, na verdade, podem ser adotadas em outras grandes áreas metropolitanas do País. O Setcesp congrega 21 mil empresas, as quais mobilizam 1,1 milhão de veículos e contam com 200 mil trabalhadores.

Afirmando estar muito satisfeito em participar de um congresso que debate a mobilidade de pessoas por meio do transporte coletivo, Tayguara Helou destacou que para pensar no coletivo é preciso lembrar que o abastecimento urbano da região metropolitana depende do transporte de cargas, que por sua vez, pode interferir no transito da cidade. “Por isso, viemos aqui trazer nossas propostas para contribuir em conjunto com a construção de uma São Paulo com mais mobilidade”, disse. As propostas estão sumarizadas a seguir.

DIRETORIAS MUNICIPAIS

Uma das sugestões diz respeito à criação de diretorias especializadas em cargas e logística dentro das secretarias municipais. Os órgãos devem dispor de técnicos com conhecimentos específicos e se reunir com frequência para padronizar ações. As diretorias especializadas se responsabilizarão pela aprovação de empreendimentos que necessitem de abastecimento de cargas e insumos em grande volume, visando reduzir os impactos desse tipo de transporte sobre a mobilidade urbana.

FIM DOS VEÍCULOS IRREGULARES

Tayguara Helou diz que é preciso retirar de circulação os veículos irregulares. Dentro dessa proposta, a sugestão é que as penalidades sejam desvinculadas do registro do chassi e transferidas para o CPF ou o CNPJ do responsável pelo veículo. E que se realizem inspeções para combater o uso de veículos que estejam fora das especificações adequadas, tanto do ponto de vista da segurança para trafegar como em relação à produção de poluição atmosférica.

INCENTIVO AO USO DO VUC

É necessário padronizar o VUC (Veículo Urbano de Carga) e incentivar sua utilização. A padronização seria com base nas seguintes especificações: 2,20 metros de largura e 7,20 metros de comprimento e mais 10 centímetros para adequação, e capacidade para transportar 3,5 toneladas de carga. A ideia é que o VUC seja liberado de todas as restrições, incluindo o rodízio de veículos por final de placas.

PADRONIZAÇÃO DAS RESTRIÇÕES

Segundo Tayguara Helou, o Setcesp entende que deva haver também a padronização das restrições de circulação de veículos comerciais na capital paulista e em outros municípios da Região Metropolitana de São Paulo. A padronização deve incluir os horários das janelas de restrição nos municípios vizinhos à capital.  Para orientar os transportadores na barafunda de regramentos restritivos, o Instituto Paulista de Transporte de Cargas (IPTC), entidade de pesquisa sem fins lucrativos vinculada ao Setcesp, produziu o caderno técnico intitulado Restrições de Circulação na GRMSP – Veículos de Carga. Versão 2.0 e que pode ser baixado gratuitamente. Clique aqui

VAGAS PARA CARGA E DESCARGA

Outra proposta diz respeito à adequação de vagas para carga e descarga de mercadorias e a multiplicação desse tipo de espaço regulamentado. A ideia é atualizar a regulação e a sinalização dos locais destinados à realização do abastecimento de áreas de intenso comércio, considerando a readequação da sinalização das vagas existentes. A proposta indica a consideração de regras para carga e descarga de veículos em operação, com o emprego da tecnologia do georreferenciamento das vagas. E mais: criação de novas vagas para carga e descarga sem custo para a operação do transporte e fiscalização intensa dessas áreas para que as vagas não sejam utilizadas indevidamente.

ENTREGAS NOTURNAS

 O rol de sugestões inclui a ampliação e modernização das entregas noturnas. Tayguara Helou diz que no entendimento de sua entidade, entregas em horários alternativos e durante a noite devem ser incentivados em grandes polos geradores de cargas. A recomendação do Setcesp é para que os horários alternativos sejam estabelecidos como regra obrigatória em estabelecimentos com área superior a cinco mil metros quadrados nas zonas urbanas centrais, incluindo o minianel viário da capital paulista, e 10 mil metros quadrados no restante da cidade. É recomendado ainda o uso de tecnologias para incentivar e facilitar as entregas noturnas.

TERMINAIS DE TRANSBORDO

O Setcesp pede a criação de terminais e miniterminais de abastecimento urbano e transbordo de cargas. No entender da entidade, os miniterminais logísticos devem ser incentivados na Região Metropolitana de São Paulo e municípios próximos e devem ser interligados de maneira fácil, de modo que possam ser abastecidos com carretas durante a noite para que, durante o dia, sirvam como base para distribuição urbana local com o VUC, sem restrições de circulação.

CORREDORES PARA CARGA DE PASSAGEM

Outra reivindicação é que sejam implantados corredores logísticos para carga de passagem. O Setcesp argumenta que, com os gargalos existentes na malha logística nacional, as condições para transporte de cargas nas rodovias precisa de políticas que facilitem o escoamento da produção através da Região Metropolitana de São Paulo. A sugestão é para que se oficialize a liberação da via expressa da Marginal Tietê para tráfego de caminhões em tempo integral até que o escoamento desse tipo de tráfego possa ser realizado por vias que contornem a região.

COMBATER A INEFICIÊNCIA

Na visão do Setcesp, é preciso combater a ineficiência no recebimento de mercadorias. A proposta é que seja constituído um comitê multi-setorial que envolva transportadores, o varejo, universidade e poder público para criar metodologias que promovam o aumento da produtividade no recebimento de mercadorias, tendo em vista critérios que reduzam os impactos da atividade na mobilidade urbana. Para este tema o Setcesp também produziu uma publicação, intitulada Recebimento de Carga — Shopping Centers GRMSP, contendo informações para entregas em mais de 70 shoppings centers da Região Metropolitana de São Paulo e indicação de horários, local de descarregamento e tipo de transporte aceito dentro de cada shopping. Clique aqui para ter acesso à publicação.

ZONEAMENTO PARA MULTIMODALIDADE

Também integra a relação de propostas o estabelecimento de políticas de zoneamento nos entroncamentos entre rodovias e ferrovias para promover multimodalidade. Para fomentar as operações multimodais e tirar o excesso de demanda das rodovias, o Setcesp apoia o incentivo para criação de terminais multimodais entre rodovias e ferrovias no território da Região Metropolitana de São Paulo, com ligações diretas para portos e aeroportos.

AUTOMATIZAÇÃO DE DEMANDAS

No entendimento do Setcesp, é preciso haver o desenvolvimento e o aproveitamento de tecnologias para automatizar as demandas do transporte rodoviário de cargas. Tayguara Helou explica que novas tecnologias aplicadas ao transporte rodoviário de cargas estão surgindo com grande velocidade e a integração delas com as empresas de transporte é fundamental para que novos produtos sejam desenvolvidos de forma eficiente ao atender as necessidade do setor. A desregulamentação para entregas de produtos perecíveis é fundamental, servindo também para controlar os fluxos de passagem pela Região Metropolitana de São Paulo.

BOAS PRÁTICAS NO TRANSPORTE

Finalmente, o Setcesp propõe o estabelecimento de programas de conscientização a respeito de boas práticas na indústria do transporte. Segundo Tayguara Helou, para perenizar os programas de melhoria do transporte urbano de cargas, o Setcesp defende a educação e a conscientização da importância do transporte rodoviário de cargas para que haja conformidade com a legislação. “Com a mudança de comportamento, muitos dos problemas de segurança e congestionamento podem ser solucionados nas grandes metrópoles”, concluiu

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