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Esqueça os aspectos tecnológicos. Hoje, a regulação é o maior problema para a disseminação dos carros autônomos. Por Valeska Peres Pinto

Categoria: Matérias

Publicado em 3 fev 2019

4 minutos

Esqueça os aspectos tecnológicos. Hoje, a regulação é o maior problema para a disseminação dos carros autônomos. Por Valeska Peres Pinto

Tudo o que os folhetos promocionais disseram a respeito do congresso e exposição CES 2019, realizados na icônica Las Vegas, nos Estados Unidos, sob os auspícios da CTA – Consumer Technology Association, mostrou-se rigorosamente verdadeiro.

Valeska Peres Pinto

O evento foi, novamente, de fato, o ponto de encontro global de todos aqueles interessados em conhecer o estado da arte de algumas das mais importantes tecnologias revolucionárias e em compreender o estágio em que se encontram as inovações de última geração introduzidas no mercado mundial.

Foram mais de 4.500 empresas expositoras, incluindo fabricantes, desenvolvedores e fornecedores de hardware de tecnologia para consumidores, conteúdos e sistemas de distribuição de tecnologia. O programa de conferências propiciou 250 sessões. O encontro atraiu 180 mil participantes de 150 países. Os valores envolvidos também impressionam, pois se trata de um mercado de USD 398 bilhões.

O DILEMA DA INDÚSTRIA DE AUTOS

Muitas das principais montadoras automobilísticas estavam por lá e, assim, o tema central dos debates de que participavam e do que tinham para apresentar era o carro autônomo e suas variações. A primeira questão colocada no encontro foi: serão elétricos todos os futuros carros autônomos?

A resposta para essa indagação ainda não apareceu. Na verdade, há aqueles que acreditam que o motor a combustão ainda terá uma longa vida, significando que será possível pensar no carro autônomo com motor a combustão, movidos a gasolina ou algum outro tipo de combustível fóssil ou renovável. De acordo com esse raciocínio, teríamos veículos elétricos e com motor a combustão convivendo das ruas, avenidas e estradas do mundo.

Por outro lado, há os que crêem que, no frigir dos ovos, vai ser muito difícil a indústria investir na convivência desses dois modelos energético, porque o carro elétrico é muito mais simples de produzir e tal simplicidade tende a reduzir consideravelmente o custo de produção, aumentando os lucros da empresa e ampliando os dividendos dos acionistas (algo de que, sem dúvida, gostarão). 

Escolher entre um ou outro caminho não é exatamente um dilema que para nós, consumidores, mas é efetivamente um dilema da indústria, que, porém, não tenhamos dúvidas, saberá fazer sua escolha, embarcando em uma ou outra linha.

HÁ UMA QUESTÃO MAIS DIFÍCIL

Apesar do dilema energético, há no horizonte um problema que parece mais difícil e intrincado para todos os envolvidos, a ponto levar alguns analistas e especialistas a considerarem a possibilidade de que a CES 2020 simplesmente deixe de falar carros autônomos. Tal problema atende pelo nome de regulação.

Há, efetivamente, muitos problemas para a regulação desse segmento. Só para que se tenha uma ideia, será preciso definir a quem caberá a responsabilidade quanto a ocorrências como colisão entre veículos e atropelamento de pedestres, entre outros que fatalmente ocorrerão.

Há também a questão da adaptação da regulação das cidades com respeito aos ambientes urbanos nos quais os veículos autônomos irão trafegar. Quem arcará com a tarefa e os custos de dotar tais ambientes das condições adequadas para o carro autônomo? Serão os donos dos veículos? Serão os provedores de energia? O Poder Público?

Trata-se de uma seara razoavelmente complexa também pela razão de envolver os interesses dos fabricantes, dos consumidores e dos governos, além das seguradoras, que necessitam de clareza jurídica com relação a todos os bens cujos riscos pretendem assumir a um custo equilibrado.

A turma da tecnologia avançou muito e vem colecionando êxitos no desenvolvimento de atributos que configuram essa nova maravilha tecnológica que são os carros autônomos. Porém, está descobrindo a existência de algo muito importante na vida em sociedade: exatamente a regulação, que exige a prevalência do bom senso, e também que muitos atores ofereçam sua contribuição, abrindo mão de parte de seus interesses.  

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