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Assédio sexual no transporte coletivo: um problema latino-americano. Entrevista com Daniely Votto, do WRI (World Resources Institute)

Categoria: Matérias

Publicado em 18 set 2018

3 minutos

Assédio sexual no transporte coletivo: um problema latino-americano. Entrevista com Daniely Votto, do WRI (World Resources Institute)

MÁRCIA PINNA RASPANTI

Em São Paulo, Brasil, 25% das mulheres já sofreram assédio sexual no transporte; na Cidade do México, 65% delas já passaram por esse tipo de situação. O problema está presente em toda a América Latina. Daniely Votto, gerente de Governança Urbana no Programa de Cidades do WRI (World Resources Institute) Brasil, uma organização internacional de pesquisa que abrange 50 países, acredita que a educação é o caminho para combater efetivamente essa questão.

Daniely coordena projetos subnacionais com foco em governança, transparência, gênero e participação da sociedade civil e apoia a equipe de Cidades da WRI na implementação de projetos para que sejam mais centrados nas necessidades das pessoas.

MOBILITAS – O assédio sexual no transporte coletivo é um problema comum na América Latina?

DANIELY VOTTO – Sim, é um problema crônico e comum na América Latina. É difícil de ser mensurado, pois as mulheres têm medo e vergonha de reportar as ocorrências. Um recente estudo mostrou que 25% das mulheres que usam o transporte na cidade de São Paulo já sofreram assédio. Na Cidade do México, 65% das mulheres já sofreram assédio no transporte. Superlotação, falta de vigilância e de câmeras influenciam nesses números.

MOBILITAS – Quais as principais iniciativas para combater tais ocorrências?

DANIELY VOTTO – A educação é o primeiro ponto! Fazer campanhas nas cidades, montar grupos de ajuda, ter mais câmeras, ter policiais e seguranças mulheres, lugares especiais para atender as denúncias, ter políticas mais duras para repressão. Ter a presença do estado e dos administradores para evitar e coibir esses atos – que estão ligados à sensação de poder e dominação.

MOBILITAS – Medidas como o “vagão rosa” (vagão de trem destinado exclusivamente às mulheres) ou aplicativos do tipo “botão de pânico” são efetivas, em sua opinião?

DANIELY VOTTO- Essas medidas são paliativas. Não são as melhores e nem são a solução. Mas, em um momento de epidemia como o atual, são movimentos que podem passar uma maior sensação de segurança. É um primeiro passo, porém sem ter um plano consistente para coibir o assédio, essas medidas não produzirão efeitos por muito tempo.

MOBILITAS – No Brasil, o combate ao assédio sexual tem sido levado a sério?

DANIELY VOTTO – Infelizmente não. No Brasil, a política contra qualquer tipo de assédio sexual ainda é vista como uma fraqueza. Nossos legisladores são homens em sua maioria, então desconhecem o medo. Apenas em casos pontuais e emblemáticos temos algum apoio. Mas o interessante é perceber que as mulheres estão se unindo e perdendo a vergonha e o medo.

O assédio é culpa do agressor e nunca da vítima. Em países da Europa temos uma educação mais voltada a coibir essa violência. E também a forma como o desenho urbano é estabelecido, privilegiando as pessoas. Isso ajuda muito nessa questão.

MOBILITAS – Como a WRI atua nessa questão?

DANIELY VOTTO – O WRI costuma divulgar dados de pesquisas e de iniciativas nesse tema e também promove debates e coalizões que trabalham a questão de gênero nos transportes.

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