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Publicado em 13 set 2018
5 minutos
Indústria debate qual a melhor forma de reduzir os níveis de poluentes emitidos pelo transporte público: os veículos elétricos ganham força
MÁRCIA PINNA RASPANTI
Em São Paulo, foi criada em julho de 2018 a lei municipal 16.802, ainda não regulamentada, que visa reduzir em 20 anos 100% da emissão de CO² por meio de veículos de transporte de passeio, carga e passageiros. O Brasil é considerado o sétimo maior deste poluente no mundo, sendo responsável por 3% da emissão total mundial. Uma lei de 2009, aprovada na capital paulista, determinava que a cada ano, 10% dos ônibus deveriam ser substituídos por veículos que usassem energia limpa.
Se esta lei estivesse sendo cumprida, em 2018, nenhum ônibus da capital deveria rodar só com óleo diesel. Mas, a situação é bem diferente: dos mais de 14 mil ônibus da frota de São Paulo, 96% da frota ainda é movida a óleo diesel. Somente a legislação não é capaz de alavancar o progresso com relação às emissões, mas, é consenso entre os especialistas e profissionais da área que são necessárias politicas públicas de investimentos em combustíveis renováveis e outras tecnologias. Se a lei for cumprida, em duas décadas 13,7 milhões de toneladas de poluentes deixarão de ser jogados na atmosfera.
O futuro é elétrico, conectado e compartilhado. Iêda Maria Oliveira, gerente comercial da Eletra, destaca que o Brasil precisa decidir que papel quer ter no mercado de ônibus elétricos. “As fabricantes brasileiras tradicionalmente já exportam ônibus para outros países, principalmente os latino-americanos. Precisamos manter a liderança nos veículos de baixas emissões. O Brasil não precisa ser apenas um consumidor dessa tecnologia, mas pode se posicionar como um fornecedor importante. No momento, a questão da sustentabilidade é muito forte em nível mundial, e a sociedade brasileira vai começar a olhar esse tema com mais atenção”, acredita.
Entre os mercados mais importantes para os elétricos na América Latina estão Chile, Argentina, Colômbia e México. “Muitos países da região estão discutindo o tema da qualidade do ar e da necessidade de reduzir as emissões do transporte coletivo. No Chile, começa a vigorar a obrigatoriedade de haver uma parte da frota com veículos não poluentes. Na Argentina, também o tema ganha grande relevância”, conta Oliveira. Criada em 1988, a Eletra lançou no ano seguinte o primeiro ônibus elétrico híbrido com tecnologia brasileira. Atualmente, existem mais de 400 ônibus da marca com tração elétrica em operação na grande São Paulo e também em Rosário, na Argentina, e em Wellington, na Nova Zelândia.
Adalberto Maluf, diretor de Marketing, Sustentabilidade e Novos Negócios da BYD, fabricante chinesa de veículos elétricos lembra que os ônibus não são os vilões da emissão de poluentes, sendo superados pelas frotas de caminhões e automóveis nesse quesito. “Se o Brasil quer ser competitivo, precisa entender que o futuro é elétrico, conectado e autônomo. Faltam incentivos governamentais. O lobby da indústria quer evitar, inclusive, a passagem do Euro 5 para o Euro 6, além de dificultar a expansão dos elétricos”, diz.
Segundo Maluf, seriam gastos US$ 7 bilhões para fazer a transição do Euro 5 para o Euro 6 no Brasil, mas haveria um retorno de US$ 74 bilhões. “O retorno para a população é enorme. Uma frota menos poluente traz benefícios para a saúde das pessoas e para o meio ambiente. O Euro 5 tem muitas falhas, pois não se monitora o NOx (Óxido de Nitrogênio) e há muitas brechas para burlar a legislação. Não há como evitar o futuro: até 2030, 30% da frota mundial será de veículos elétricos”, explica. Recentemente, a BYD vendeu 100 veículos totalmente elétricos do modelo K9FE para operar no Transantiago, sistema de transporte público da região metropolitana da capital do Chile.
Entre as montadoras, acredita-se que o mercado deve ter diversas opções de tecnologia à disposição. “A Scania conta com uma linha que atende todas as alternativas em combustíveis de baixa emissão, como HBO, biometano, GNV e elétrico. No caso dos elétricos, não há como negar que existem aspectos operacionais a serem definidos”, diz André Rodrigues de Oliveira, chefe de Vendas e Marketing de Ônibus da Scania para a América Latina. Entre os obstáculos estão: disponibilidade de postos de abastecimento de energia elétrica e as baterias (autonomia, peso, descarte).
Fabiano Todeschini, presidente da Volvo, afirma que os pilares para se fazer uma transição para ônibus menos poluentes são econômicos, ambientais e políticos. “Os fabricantes precisam de estabilidade nas regras para investir na produção de veículos com menos emissões. Em 2012, havia incentivos para se reforçar a frota menos poluente, hoje isso não existe mais. A indústria tem a tecnologia para fabricar ônibus movidos a energia mais limpa, mas faltam políticas públicas de incentivo e infraestrutura”, complementa.
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