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Indústria brasileira mostra resultados de 2022 e projeções para 2023 relativas à fabricação de ônibus, implementos rodoviários, motos e bicicletas – incluindo partes e peças – e vagões e carros ferroviários

Categoria: Matérias

Publicado em 17 jan 2023

14 minutos

Indústria brasileira mostra resultados de 2022 e projeções para 2023 relativas à fabricação de ônibus, implementos rodoviários, motos e bicicletas – incluindo partes e peças – e vagões e carros ferroviários

Próximo de completar 90 anos – foi fundado em 17 de setembro de 1934 – o Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários, do Brasil, conhecido pela sigla SIMEFRE, representa as empresas daquele país que atuam na fabricação de materiais e equipamentos ferroviários e rodoviários e de duas rodas.

No final de cada ano, a entidade promove um seminário em que realiza um balanço das atividades de cada segmento representado e mostra as projeções para o ano seguinte.

Os trabalhos do seminário foram abertos com um pronunciamento do presidente do SIMEFRE, José Antônio Fernandes Martins.

Houve depois a sequência de relatos sobre resultados e perspectivas dos diferentes setores representados pelo SIMEFRE – ônibus, implementos rodoviários, motocicletas, bicicletas, partes e peças de veículos de duas rodas e a indústria ferroviária, nos segmentos voltados para cargas e para passageiros.

Além de diretores e dirigentes do SIMEFRE, compuseram a mesa do encontro o engenheiro e professor Jurandir Fernandes, dirigente de honra da União Internacional de Transportes Públicos (UITP); o deputado federal brasileiro General Peternelli, que, na parte final do encontro, fez uma exposição sobre o tema Ações legislativas para a Indústria e a Educação, e o deputado estadual de Santa Catarina, Milton Hobus.

O economista Antônio Lanzana desenvolveu uma análise sobre o momento atual da economia brasileira e as expectativas e desafios para 2023. O diretor-presidente das concessionárias de linhas de metrôs e trens metropolitanos ViaQuatro e ViaMobilidade, Francisco Pierrini, falou sobre os investimentos do Grupo CCR nas áreas de infraestrutura, transportes, rodovia, metrô e ferrovia.

A GANGORRA DA FABRICAÇÃO DE ÔNIBUS

Rubens Bisi

Projeção mostra que a produção de ônibus no Brasil fecharia 2022 com crescimento de 56,2%, mas deveria registrar queda de 10% em 2023.

Nos dez primeiros meses de 2022, a indústria brasileira de ônibus alcançou crescimento equivalente 53,8% superior a toda a produção do ano anterior e trabalhava com a perspectiva terminar o ano com crescimento de 56,2%.

A avaliação foi feita por Ruben Bisi, diretor de SIMEFRE e presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (FABUS).

Ele afirmou que os anos da pandemia – 2020 e 2021 – estão entre os piores vividos setor de fabricação de ônibus no Brasil; o pior de todos foi o já longínquo 1984.

Em função das restrições determinadas pela crise sanitária, quando se buscou evitar aglomerações, alguns dos clientes do setor ficaram praticamente sem receitas ao longo da pandemia e, muito debilitados, deixaram de comprar ônibus.

Bisi conta que em 2013 registrou-se um recorde de produção de ônibus, que alcançou a casa 32 mil unidades, mas o tamanho real do mercado, nesta década, é da ordem de 25 mil unidades, quantitativo que não foi atingido em 2022, uma vez que, mesmo considerado o crescimento previsto de 56,2% sobre o ano anterior, a produção foi estimada em 19.314 mil unidades para aquele ano.

Relativamente a 2023, a indústria projeta um decréscimo de 10% em comparação com o que se esperava para 2022. Isso acontecerá devido à obrigatoriedade da introdução da tecnologia Euro 6, que faz com que os veículos sejam de 25% e 30% mais caros que o ônibus tipo Euro 5. Parte dos clientes irá aguardar um certo tempo para efetivar a introdução dessa tecnologia.

Quanto às exportações, o setor estima para 2023 queda de 7%, também em razão de alguns países tradicionalmente importadores do produto brasileiro estarem introduzindo a tecnologia Euro 6. 

FATORES POSITIVOS

No seminário anual do SIMEFRE, Rubens Bisi apresentou um conjunto de fatores positivos e oportunidades para a indústria brasileira de ônibus 2023.

Disse que o crescimento do PIB e o crescimento do nível emprego são fatores que estimulam o transporte de pessoas e, por consequência, estimulam o mercado de ônibus.

Apontou as reformas tributária e administrativa como possibilidades importantes para o setor.

E sublinhou a perspectiva de investimentos em infraestrutura, que ocasionam a necessidade transporte de funcionários em muitas obras que deverão ser realizadas.

No dizer do dirigente, o Brasil tem um estoque de praticamente um trilhão de reais (USD 186,61 bilhões) para os próximos 30 anos em obras já contratadas, parte das quais, em decorrência de privatizações em diferentes setores. Em 2023, os recursos para obras estariam na casa R$ 100 bilhões (USD 18,66 bilhões).

Outro aspecto referido foi o aumento do turismo interno. O presidente da FABUS afirmou que, após a pandemia, se observa crescimento significativo do turismo por ônibus, principalmente nas regiões nordeste e sul do país. Os preços elevados das passagens aéreas estão fazendo com que as viagens de até 500 km se realizem por ônibus, estimulando o mercado de ônibus rodoviário, produto de maior valor agregado.

O dirigente realçou que as exportações da indústria de ônibus estão sendo retomadas. Segundo considerou, há apenas um ponto negativo mais significativo: a Argentina tem bloqueado a importação de ônibus, porém em razão de questões financeira internas daquele país; de resto, o mercado internacional está retomando sua vitalidade. A África tem-se mostrado o grande mercado para os ônibus brasileiros, com um volume considerável de encomendas em 2022 e outro considerável número de projetos para 2023.

Ruben Bisi mostra que outra questão positiva para a indústria está nos pregões do programa Caminho da Escola, do governo federal brasileiro. O setor recebeu a garantia de que haverá mais um pregão em 2023, no primeiro trimestre do ano.

Também é um aspecto alentador o avanço da mobilidade elétrica no Brasil, com uma demanda crescente de veículos com esse tipo de energia de tração em várias cidades, de modo especial em São Paulo, Salvador e Curitiba.

PONTOS DE ATENÇÃO

O dirigente fez referência também aos pontos que merecem atenção da indústria de ônibus. Um desses pontos é a definição da equipe ministerial e os planos de governo. Nesse quadro situa-se a questão da criação de um Ministério da Indústria para incentivar a indústria nacional e ações para favorecer a exportação. De fato, na primeira semana de janeiro de 2023, o novo governo efetivamente criou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, cujas medidas estão sendo aguardadas.

Além disso, segundo Bisi, o setor precisa buscar que o banco brasileiro de fomento – o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – financie o setor de transporte, já que, atualmente, tem financiado apenas projetos de infraestrutura.

Outro aspecto apontado como crucial para fabricantes e operadores é que se consiga a prorrogação da vigência de mecanismos de desoneração da folha de pagamento, que se encerrarão em 2023. “Vamos ter que batalhar no Congresso para obter prorrogação dá desoneração da folha do sistema de transporte e também a reforma tributária que previu uma desoneração do setor de transporte público”, disse Ruben Bisi.

O dirigente assinalou que o setor tem expectativas positivas com o projeto de lei 3278/21, que tramita no Senado e que trata do marco legal do transporte público. No dizer, de Bisi, uma vez aprovado e sancionado, esse projeto dará um novo direcionamento para o transporte público, tornando-o eficiente e barato e com qualidade.

O dirigente acrescentou que o setor também trabalhava em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional, onde existe uma Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano, no sentido de construir um Marco legal do Transporte público. Com o início do novo governo, o tema deverá ficar afeto ao recentemente recriado Ministério das Cidades.

Outro ponto evidenciado disse respeito à iminência da edição de um decreto que deverá instituir um programa de renovação veicular que determinará a retirada de circulação de caminhões com mais de 30 anos e carretas e ônibus com mais de 20 anos.

Ruben Bisi salientou ainda a necessidade de redução do chamado ‘custo Brasil’ – os entraves de diferentes ordens que dificultam o empreendimento e atrapalham o ambiente de negócios.  Segundo o dirigente, essa situação acarreta custos de produção no país 25% a maior do que se observa na média dos países que integram a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As informações de outros setores

A apresentação sobre os ônibus foi seguida de uma sequência de relatos sobre resultados e perspectivas de outros setores.

BICICLETAS E MOTOS

O diretor do SIMEFRE Hilário Kobayashi levou ao encontro os resultados do setor de bicicletas e de motocicletas. Inicialmente, ele mostrou dados evidenciando que a produção de bicicletas do Polo Industrial de Manaus (PIM), situado na capital do Estado do Amazonas, no norte do país, mostrou altos e baixos nos últimos anos.

Em 2018, foram produzidas 774 mil bicicletas e em 2019, esse total se elevou para 920 mil. Já em 2020, com o início da pandemia, o total produzido caiu para 665 mil unidades, subindo em 2021 para 749 mil. Para 2022, a estimativa era de fabricação de apenas 630 mil bicicletas – retração de 15,9% – com o que se alcança o menor nível de produção dos últimos dez anos.

Motos. Sobre a fabricação de motocicletas, Kobayashi ponderou que se trata de um segmento que se beneficia atualmente uma série de fatores. Um desses fatores é demanda crescente por mobilidade urbana, ao qual as motos oferecem boa resposta, uma vez que são veículos ágeis, flexíveis, acessíveis e com baixo custo de manutenção.

Acrescentou que houve aumento da utilização profissional das motos nos meios rural e urbano – neste caso, com serviços de delivery. E sublinhou que o aumento dos preços dos combustíveis acabou realçando e valorizando a economia propiciada pelas motos.

Os números da série histórica mostrada por Kobayashi revelam que houve queda continuada na produção motos entre 2012, quando foram produzidas 1.690.000 unidades e 2017, quando se produziram tão somente 883.000 unidades. Em 2018, observou-se um início de retomada, com a produção de 1.037.000 motos, o que teve continuidade em 2019, com 1.108.000 unidades fabricadas.

Registrou-se nova retração no primeiro ano da pandemia, 2020, com 962 mil unidades produzidas, e nova retomada em 2021, com 1.195.000 unidades fabricadas. Para 2022, a previsão é de crescimento de 18,8%, com a expectativa de produção de 1.420.000 unidades, das quais 59 mil unidades destinadas à exportação (crescimento de 10,3% em relação a 2021), e 1.350.000 ao varejo (16,7% a mais do que no ano anterior).

Partes e peças. Explicando a situação do segmento de partes e peças para veículos de duas rodas, o empresário Auro Levorin disse acreditar que 2023 será um período difícil, pois as fábricas de bicicletas e os clientes do setor de reposição estão com níveis elevados de estoque. Ele disse que houve um crescimento importante do setor em 2021 passado e uma “redução brusca” em 2022, levando a indústria a avaliar que o estoque não comercializado será carregado para o próximo ano.

Conforme Levorin, o segmento continuará empreendendo movimento de defesa comercial, com combate à concorrência desleal dos países asiáticos, que praticam “importações subsidiadas que nos atrapalham muito”.

A esperança é que o novo governo promova a isonomia competitiva em relação ao produtor local.

O dirigente também falou em incentivo ao adensamento da cadeia produtiva e promoção de novas indústrias de partes e peças de bicicletas e motos, redução do custo de capital e diminuição da complexidade tarifária.

IMPLEMENTOS RODOVIÁRIOS

Alcides Braga, vice-presidente SIMEFRE, informou o mercado de implementos rodoviários avaliava concluir em 2022 com 165 mil unidades produzidas, um valor muito próximo ao obtido em 2021, quando foram produzidos 163 mil implementos rodoviários.

Na distribuição por segmento, o entendimento é de que se alcançará a marca de 80 mil produtos da linha pesada (reboque e semirreboque) e 85 na mil da linha leve (carroceria sobre chassis).

O dirigente assinalou que os mercados que sustentaram o crescimento da indústria no seu segmento foram os “sempre presentes” setores do agronegócio, construção civil, mineração e comércio de varejo. Para o próximo ano, o ambiente da retomada de crescimento favorece a previsão de superação do volume de emplacamentos registrados no ano anterior.

NÚMEROS DA INDÚSTRIA FERROVIÁRIA

Houve queda da produção brasileira de vagões de carga ano a ano, desde 2014, quando foram produzidas 4.703 unidades até 2019, quando foram fabricados 1.006 vagões.

Em 2020, o primeiro ano da pandemia, foram produzidas 1.672 unidades, e no segundo ano da crise sanitária, 2021, foram fabricadas 1.800 unidades. Faltando poucas semanadas para o final do ano, a estimativa para 2022 era de fabricação de 1.250 vagões.

A previsão para 2023 é que seja fabricado um total entre 1.500 e 2.000 unidades – sendo 1.000 vagões completos, representando uma queda de 20% com relação aos 1.250 vagões de 2022, e um total entre 500 a 1.000 caixas de vagões de um programa de uma das concessionárias para renovar a frota. Tal programa pode persistir por quatro anos, de modo que se projeta a produção de 6.000 a 8.000 caixas ao longo dos próximos anos, sendo que a capacidade instalada da indústria permite a produção de 12.000 vagões por ano.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária, Vicente Abate, afirma que o sobe-e-desce na produção não é bom para a indústria. “É ruim porque, tanto na queda como na subida, nós temos problemas para dimensionar a mão de obra, o abastecimento. São custos financeiros adicionais que a indústria enfrenta e que repassa naturalmente aos seus produtos”.

Em 2020 aconteceram as renovações das concessões de três operadoras de transporte ferroviário de carga (Malha Paulista e duas ferrovias da Vale) e a expectativa da indústria era de que haveria aumento de produção. Isso aconteceu, mas a subida, nas palavras de Vicente Abate, está instável. “Esperávamos que fosse mais vigorosa, mas está tímida. E temos um ano de 2022 com queda em relação aos dois anos anteriores. E essa queda impacta toda a indústria e toda a cadeia produtiva”.

Quanto às locomotivas o comportamento é similar nos últimos anos. Entre 2015, quando foram produzidas 129 locomotivas, e 2020, com 29 unidades fabricadas, houve queda de ano para ano. Em 2021 houve crescimento em relação ao ano anterior, com 67 unidades produzidas, mas inaugurou-se nova sequência de queda em 2022, com 54 unidades, e 2023, com previsão de produção de 31 unidades.

Isso faz com que o setor tenha que promover uma revisão do seu planejamento.

Na década de 2010, a indústria ferroviária de passageiros alcançou 3.080 carros e previu-se para a década de 2020 a produção de 3 mil carros. Acumulados os quatro primeiros anos da década — 2020, 2021, 2022 e contanto a projeção para 2023 – se chegará a 398 unidades produzidas. Esse quantitativo significa 13% do total previsto em 40% do tempo. Então, provavelmente, será preciso rever essa previsão de produção.

Renato Meirelles

Carros de passageiros. Renato Meirelles, delegado do SIMEFRE mostrou que para uma capacidade produtiva instalada de 1.200 unidades, a indústria ferroviária nacional de carros de passageiros não produziu uma unidade sequer em 2022.

Desde 2011, o setor enfrenta oscilação de demanda, com o seguinte desempenho anual: 2011 (336), 2012 (207), 2013 (219), 2014 (374), 2015 (322), 2016 (473), 2017 (312), 2018 (312), 2019 (99), 2020 (72), 2021 (35) e 2022 (zero). A previsão para 2023 é de produção de 291 unidades.

“É impossível a indústria sobreviver a este ciclo de altos e baixos, picos e vales. No caso da indústria ferroviária de passageiros, há nove anos, já completando dez anos em 2023, não tivemos uma única licitação para compra de trens de passageiros”, disse o dirigente.

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