Categoria: Matérias
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Publicado em 28 jul 2021
9 minutos
“Creio que as inovações em tecnologia para o transporte público e a mobilidade urbana não param. Temos muitas iniciativas no mundo todo, tentando achar uma coerência entre sustentabilidade, inclusão e mobilidade. Seguramente, este é o maior desafio quando falamos de grandes cidades”, ressaltou o executivo Juan Carlos Panozo Gorriti, diretor de vendas para a América Latina do Grupo Trapeze nesta entrevista, concedida à jornalista Márcia Pina Raspanti, da revista Technibus, de OTM Editora, Brasil.
Technibus – Quais as novidades do Grupo Trapeze para o mercado brasileiro?
Juan Gorriti – O mercado brasileiro é um mercado grande e forte, com importantes sistemas de transporte. O Brasil se destaca no sistema eletrônico de pagamentos (bilhetagem), cobrindo aspectos biométricos de alta tecnologia e integração de pagamentos dos diversos sistemas (clearing house). Vemos também bastante progresso nos sistemas de gestão de frotas, apresentando integração com as diversas tecnologias embarcadas, assim com também o uso intensivo de aplicativos móveis para usuários para o planejamento das viagens. A vantagem de empresas como a Trapeze é que temos um portfólio bastante extenso, que abrange praticamente todas as partes da operação das empresas de serviços de transporte, possibilitando que estas possam gerenciar e controlar suas operações, seus recursos e ativos, e também suas informações.
Nesse contexto, vale a pena ressaltar a nossa solução de Enterprise Asset Management (EAM), na qual apoiamos a gestão de ativos físicos com o objetivo de manter uma operação segura, disponível e eficiente, e com custos operacionais controlados. Quando falamos de ativos, estes incluem: material circulante, trilhos e outras estruturas lineares, como pontes, equipamentos de sinalização, estações, pontos de paradas, edifícios, peças, ou seja, todos os ativos que fazem parte do controle da empresa.
Dentro de sistemas como este, também abordamos temas como manutenção preventiva, gerenciamento do inventário de peças e componentes, gerenciamento de configurações de software e hardware de equipamentos. Vinculados ao sistema de gestão de ativos temos também o monitoramento de veículos e seu uso de combustível, e mais recentemente o monitoramento da carga de baterias para veículos elétricos.
Então, com a experiência do que vivenciamos na pandemia, notamos que contar com um sistema de gestão de ativos que atenda todas estas características torna-se mais relevante para garantir a disponibilidade de serviços e o controle de custos.
Por outro lado, vale ressaltar também, as nossas soluções especializadas para a gestão de pessoal operacional (WFM ou Work Force Management) com capacidade de considerar os diversos e complexos acordos coletivos (com os sindicatos), os requisitos de treinamento e habilidades, os horários específicos de trabalho com horários de descanso e folga, de acordo com o cargo, e outras complexidades.
Atualmente, está se tornando mais difícil reter funcionários, portanto capacitar motoristas e pessoal de manutenção com ferramentas de aprendizado mediante sistemas de autoatendimento que lhes permitam acessar capacitações, informações sobre seu dia, solicitar férias e receber avisos por meio de aplicativos móveis ou web, entre outras coisas, torna-se atraente e valioso.
Outro destaque do nosso portfolio é a solução de Planning and Scheduling (planejamento e escalas) que é uma ferramenta poderosa para definir e planejar os veículos que serão necessários para atender as demandas em cada rota. Isto baseado em conceitos de inteligência artificial para poder ser ágil, flexível e confiável nas relações de tipos de veículos, quantidade e frequência desses veículos que devem transitar para atender a demanda. Na época atual de crise, quando a circulação dos veículos precisa se adequar a decisões de atendimento que mudam a cada momento, esta ferramenta se torna extremamente necessária para planejar com a agilidade requerida.
Algumas vezes, fazer o planejamento (ou replanejamento) de toda uma programação de escalas poderia levar dias, mas com uma ferramenta de Planning and Scheduling, leva apenas algumas horas.
Finalmente, na Trapeze, temos toda uma plataforma de mobilidade que permite que os operadores planejem e agendem seu serviço de forma multimodal: ônibus, trem e transporte sob demanda. Também temos nosso aplicativo móvel de usuário que oferece mobilidade como serviço (MaaS) em que, de um único lugar, o usuário planeja sua rota de viagem, paga pelo serviço, recebe informações sobre sua viagem e a lotação do veículo. Mais do que nunca, é necessário ter soluções que permitam que a operação se adapte de forma fácil e rápida, bem como que possibilitem manter o usuário informado e com alta satisfação.
Technibus – Como a Trapeze pode ajudar os operadores brasileiros a enfrentar os desafios do transporte público? Lembrando que o setor vive uma crise, agravada pela pandemia.
Juan Gorriti – A Trapeze teve a oportunidade de ver os impactos da pandemia em primeira mão. A partir do momento em que a demanda pelo serviço despencou, trabalhamos muito em estreita colaboração com nossos clientes para poder apoiar em tudo relacionado à reconfiguração de sistemas, ajustes de serviços, garantir a integridade das informações e dados derivados de todas as mudanças, adaptar os sistemas para apoiar serviços alternativos, enfatizar o uso de ferramentas que garantiram distância saudável e o uso de equipamentos de proteção, a implantação de novos processos de limpeza e higienização, bem como novos materiais (telas que separam os motoristas dos usuários, informações ao usuário sobre a localização do ônibus e qual a sua lotação). Hoje, com a experiência de nossos mais de 150 clientes na América do Norte, a Trapeze é capaz de oferecer as melhores práticas e recomendações com as quais nossos clientes continuam avançando.
Tópicos muito relevantes foram o uso de dados informativos para a tomada de decisões. Ajustar a oferta e a demanda do serviço, garantir a equidade e a inclusão do serviço, controlar custos e capacitar usuários e colaboradores.
Technibus – Essas soluções já estão em operação? Em que cidades ou sistemas?
Juan Gorriti – Nossas soluções rodam nas principais cidades de Norte América, de Europa e Ásia. Temos as soluções, o conhecimento e os recursos. Acreditamos que estamos prontos para mostrar à América Latina, disponibilizar toda nossa expertise e nossas soluções que tanto têm ajudado aos nossos clientes a controlar seus custos e manter a confiabilidade dos seus sistemas para seus clientes.
Temos bastantes exemplos de clientes que têm atestado os benefícios ao usar nossas ferramentas, principalmente neste período de crise. Veja aqui.
Technibus – Quais as tendências em tecnologia para mobilidade na América Latina?
Juan Gorriti – Creio que as inovações em tecnologia para o transporte público e a mobilidade urbana não param. Temos muitas iniciativas no mundo todo, tentando achar uma coerência entre sustentabilidade, inclusão e mobilidade. Seguramente, este é o maior desafio quando falamos de grandes cidades.
Não devemos esquecer que nossas cidades (especialmente aqui na América Latina), foram estruturadas pensando na mobilidade do transporte, e não do cidadão. Agora que estamos praticamente nos afogando na nossa própria rede, estamos obrigados a ser muito criativos ao redesenhar um modelo que tenha como foco o cliente, em cidades que não foram pensadas para isso.
Enquanto as cidades pensam firmemente em novos conceitos de infraestrutura para ajudar na mobilidade, como os famosos “hubs de mobilidade” que tenta juntar os vários modais, temos as empresas de tecnologia, como a nossa (Trapeze Group), contribuindo com as ferramentas necessárias para atender os novos conceitos de mobilidade, trazendo soluções de planejamento, tanto para o cliente como para os operadores, permitindo acesso a todas as formas de mobilidade de forma centralizada, e melhor ainda, como serviço. São os conceitos de MaaS na sua maior expressão. Cada vez mais, estaremos vendo demandas neste sentido, à medida que as cidades estejam preparadas para tal.
Technibus – Quais os planos e expectativas da Trapeze para o mercado brasileiro nos próximos dois anos?
Juan Gorriti – Nosso plano para o Brasil e América Latina são bastante agressivos. Alguns mercados, especialmente o brasileiro, têm um nível de maturidade maior que o resto de América Latina para entender o futuro da mobilidade.
Certamente, à medida que formos saindo desta crise mundial da pandemia, as empresas de transporte coletivo ainda estarão se reestruturando para compensar as grandes perdas ocasionadas pela pandemia. Sabemos que o modelo atual de tarifa já está sendo questionado há anos e hoje tem um marco regulatório já em discussão no governo, que pode ajudar a acelerar o processo de recuperação destas empresas. Então, sabemos que há consciência em relação ao futuro, mas há uma prioridade latente em recuperar e equilibrar o modelo de custos, que está causando muito prejuízo a este setor. Tenho certeza que nos próximos dois ou três anos, esta discussão de custo será superada. Penso que quem estiver fazendo seu dever de casa, resolvendo as suas prioridades de custo, mas pensando no futuro, certamente ficará na vanguarda. Os desafios são muitos, devido à importância do transporte coletivo na nossa vida, e por outro lado, as novas tendências de mobilidade que surgem levam a uma percepção generalizada que todos têm que agir em harmonia, já que sabemos que há uma convergência de objetivos.
Nosso plano, nestes próximos anos, é auxiliar as empresas de transporte a controlar seus custos, aspecto prioritário neste momento, auxiliá-los com as novas exigências de sustentabilidade e, ajudá-los a pensar na integração com a mobilidade sob demanda dos outros modais existentes. Nosso objetivo é conseguir uma parceria de longo prazo, já que temos soluções para todas estas necessidades, e queremos acompanhar todo o processo de crescimento destas empresas.
Technibus – Quais as peculiaridades do sistema de transporte brasileiro?
Juan Gorriti – Creio que o sistema de transporte público brasileiro seja um dos mais avançados na América Latina, apesar de ter muito ainda para se igualar aos países desenvolvidos. Um sistema de transporte público é eficaz quando as linhas troncais, suas alimentadoras e seu entorno trabalham em sintonia, sob uma organização oficial, com regras legais, infraestrutura, um desenho operacional aprovado entre todos os operadores, um desenho financeiro, um anseio de transformação do negócio e, abertos para rever processos com inovação e novas tecnologias.
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