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Transporte público na era da Covid-19. Por Nicolas Rosales, presidente da Associação Mexicana de Transporte e Mobilidade (AMTM)

Categoria: Matérias

Publicado em 6 dez 2020

8 minutos

Transporte público na era da Covid-19. Por Nicolas Rosales, presidente da Associação Mexicana de Transporte e Mobilidade (AMTM)

Nicolas Rosales

O transporte público no México vinha arrastando uma crise profunda e a pandemia tornou mais aguda essa situação, deixando clara a necessidade de haver uma mudança no modelo de negócios, de prestação de serviços, de uso de tecnologia e financiamento.

É necessário reconhecer o papel que o transporte público coletivo teve durante esta situação, já que esse serviço não parou de ser prestado para que, na medida do possível, as atividades econômicas e de trabalho da cidade continuem a ser realizadas, embora a recuperação dessas atividades, estima-se, tardará de um ano a um ano e meio.

De acordo com o livro Anatomia da Mobilidade, da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Territorial y Urbano (SEDATU), órgão do governo do México, estima-se que 103 milhões de pessoas viajam diariamente pelas cidades mexicanas, e nem todos têm a possibilidade de escolher o meio de transporte, assim como nem todas as cidades oferecem alternativas de transporte acessíveis para a população mais vulnerável.

Na Área Metropolitana do Vale do México, mais de 34,5 milhões de viagens são feitas diariamente e aproximadamente 78% delas são realizadas em transporte público.

À discussão sobre a dificuldade de locomoção nas cidades, que tem se concentrado no evidente crescimento da frota de veículos, nos elevados tempos viagem e na falta de alternativas seguras, acrescenta-se a questão da adoção de todas as medidas sanitárias para a prestação do serviço de transporte público.

Tornar os critérios de saúde compatíveis com os critérios de gestão da mobilidade é um dos principais desafios que os operadores de transporte enfrentam.

Transporte público no México como na América Latina registra a pior queda de sua história, é um dos setores mais atingidos pela crise de saúde em todo o país, empresas e operadoras veem como a emergência deixou suas unidades, sejam elas ônibus ou microônibus vazios.

A partir da declaração da quarentena na Cidade do México, em 23 de março, os serviços de concessão de transporte público perderam entre 70% e 80% de sua demanda de usuários, no caso de vans, microônibus, ônibus e corredores; e de 70 a 75% no caso do Metrobús, dependendo das características de cada rota.

De acordo com dados do Índice de Transporte Público do Moovit, na Cidade do México o uso de transporte público (Metrô, Metrobús, RTP, Tranvía, Trólebus, Ecobici e formas de micromobilidade) foi reduzido em 78,3% em 24 de maio com o confinamento social, porém, espera-se que a mobilidade aumente gradativamente na metrópole, de acordo com o plano de retomada das atividades ao novo normal, que prevê a retomada gradativa das diversas atividades. Portanto, as autoridades de mobilidade terão que implementar um plano para garantir a mobilidade segura e saudável dos moradores da capital.

É importante destacar que as receitas dos sistemas de transporte provêm quase que exclusivamente da tarifa, que mesmo em tempos normais não é suficiente para cobrir a tarifa técnica; portanto, o déficit financeiro enfrentado pelos diferentes sistemas é generalizado e hoje é criticamente exacerbado.

A fragilidade das finanças do setor tornou-se evidente, uma vez que o transporte coletivo sob concessão só tem a tarifa como fonte direta de receita, uma vez que não conta com nenhum tipo de subsídio ou apoio do poder público, ao contrário dos sistemas da Cidade do México, como o Sistema de Transporte Coletivo (Metrô), Rede de Transporte Público (RTP), Serviço de Transporte Elétrico (STE), que contam com subsídio direto por parte do Governo da Cidade do México.

IMPACTOS DA COVID NO TRANSPORTE PÚBLICO

Estima-se que nas primeiras semanas se tenha verificado uma redução de 70 a 75 por cento da demanda nos diferentes sistemas de transporte, o que se traduz em menores receitas e deterioração da oferta e cobertura do serviço. O WRI México, na qualidade de secretaria técnica da AMAM (Associação Mexicana de Autoridades de Mobilidade) e da ANPACT (Associação Nacional de Produtores de Ônibus, Caminhões e Tratores, do México) realizou um exercício de análise para medir o impacto social, econômico e financeiro da emergência sanitária no setor, o qual estimou que, nos primeiros quatro meses após o início da pandemia, foram atingidas perdas de quase 9,8 bilhões de pesos (USD 488,76 milhões) em nível nacional, colocando em risco a sustentabilidade financeira e operacional dos sistemas de transporte.

OUTROS IMPACTOS

Outros impactos derivados desta crise são:

  • Uma crise de saúde que atinge as operadoras das unidades.
  • O retrocesso nos processos de modernização do setor.
  • Falta de liquidez para fazer frente às obrigações com os credores, como créditos das unidades e peças de reposição para manutenção.

Foram realizadas ações como ajustes de dias e horas de serviço como ferramenta de redução de custos operacionais, de forma a dar continuidade à prestação do serviço, porém, no momento, estima-se que essa economia não ultrapasse 25 por cento dos custos de operação, de modo que o setor enfrenta fragilidade financeira para manter e melhorar a oferta e cobertura do serviço.

Estima-se que 38 por cento das pessoas mudaram seu meio de transporte durante a emergência de saúde e isso duplicou ou mais que duplicou seus gastos.

Estima-se que os serviços de transporte sob concessão não recuperem mais de 20% de sua demanda usual, o que obrigará as transportadoras a buscarem meios alternativos de financiamento.

Recuperar-se da crise do COVID-19 não pode significar “continuar fazendo negócios como de costume” no setor de transporte.

O transporte público terá os seguintes desafios:

1. Sobreviver à crise financeira.

2. Adaptar-se à nova normalidade e modos de mobilidade.

3. Evoluir em novos modelos de negócios, operações e financeiros.

O GRANDE DESAFIO

À discussão sobre a dificuldade de locomoção nas cidades, que tem se centrado no evidente crescimento da frota de veículos, os elevados tempos de transferência, a qualidade do serviço, o impacto no meio ambiente e a falta de alternativas seguras, soma-se o tema da adoção de todas as medidas sanitárias para a prestação do serviço de transporte público.

Um dos principais desafios identificados é a gestão da demanda, dada a necessidade de dar resposta à oferta de transporte público necessária e, ao mesmo tempo, proteger a saúde dos utilizadores e colaboradores. Tornar os critérios de saúde compatíveis com os critérios de gestão da mobilidade é um dos principais desafios que os operadores de transporte enfrentam.

No entanto, existe uma maneira de reduzir ou eliminar os riscos associados a esses fatores. A distância, embora não em todos os casos; o uso universal da máscara, bem como a higiene, higienização e ventilação das unidades e espaço.

PARA RECUPERAR OS USUÁRIOS

Para levar os usuários de volta ao transporte público, os operadores e autoridades terão que trabalhar juntos para garantir sua segurança:

1. Limpeza e desinfecção de veículos e estações com produtos germicidas à base de cloro.

2. Manter as janelas abertas para garantir a circulação de ar, apesar do clima.

3. Evitar aglomerações de passageiros e assentos alternados: manter distâncias adequadas entre os passageiros.

4. Fornecer aos motoristas equipamentos de proteção individual: máscaras, luvas.

5. Lançar campanhas de informação para reduzir os riscos de contágio.

MEDIDAS CORRETAS

Com as medidas certas, o transporte público pode ser seguro.

É uma realidade que a operadora não pode sozinha, a participação das autoridades é necessária, e a Covid-19 apresenta uma oportunidade única para redefinir as políticas de transporte urbano:

1. Investir no transporte público, em programas de recuperação do setor.

2. Financiar o transporte público não só com tarifas, o que se tem mostrado não ser uma solução viável. Abordar a questão dos subsídios com regras claras de operação e mecanismos de reajuste de tarifas que permitam o ponto de equilíbrio na operação dos sistemas de transporte.

3. Maior eficiência na prestação de serviços.

4. Criação de uma infraestrutura de ônibus e trânsito de alta qualidade. 5. Desenvolvimento de políticas voltadas para transporte e mobilidade

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