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Mobilidade Humana. Os novos conceitos de Mobilidade Integrada e Mobilidade como Serviço, que colocam as pessoas no centro dos serviços de transportes. Por Roberto Sganzerla.

Categoria: Matérias

Publicado em 19 nov 2019

6 minutos

Mobilidade Humana. Os novos conceitos de Mobilidade Integrada e Mobilidade como Serviço, que colocam as pessoas no centro dos serviços de transportes. Por Roberto Sganzerla.

Roberto Sganzerla

Mobilidade Humana é mais que Mobilidade Urbana.

Mobilidade urbana é fazer uma boa gestão da operação, das linhas, horários, frota, bilhetagem eletrônica etc. 

Mobilidade humana, é andar a segunda milha, e colocar os clientes e usuários no centro dos serviços de transportes.

Mercadologicamente falando, clientes são aqueles que usam e pagam, e usuários são aqueles que usam e não pagam. Somos usuários do Google, WhatsApp, Waze, mas clientes da Tim, Vivo, Claro etc.

No transporte coletivo, temos os dois, clientes e usuários – os que usam e pagam e os que usam e não pagam.

É importante termos isto em conta, pois todos são seres humanos e, como tal, têm sonhos e anseios diferentes. O cliente quer modernidade, rapidez, tecnologia etc., ao passo, que o usuário quer cidadania, respeito, acessibilidade etc.

Mobilidade Humana é colocar os clientes e usuários no centro dos serviços de transportes.

CONSUMIDORES#CONECTADOS

Philip Kotler, no livro Marketing 4.0 – Mudança do Tradicional para o Digital, diz que a transformação digital transferiu poder para os consumidores conectados.

Lembro-me da época em que para assistir um filme tínhamos que ir até a locadora, alugar o filme, voltar para assistir, e depois correr para devolver o DVD para não pagar mais de uma diária.

Com a transformação digital, a proliferação dos computadores pessoais e tecnologias disruptivas, a Netflix, por exemplo, deixou as lojas tradicionais de aluguel de vídeos praticamente no passado.

Alguns acham que isto também poderia acontecer com o Transporte Coletivo, com o surgimento dos chamados “aplicativos”, como o UBER, 99, Cabify etc.

Vamos fazer benchmark com alguns setores “estruturantes”, como é o do Transporte Coletivo, para ver se podemos aprender algumas lições e aplicá-las à mobilidade urbana.

SETOR GRÁFICO

Em 1439, o alemão Johannes Gutemberg (c. 1398-1468) usou pela primeira vez na Europa uma prensa de tipos móveis. A Bíblia não foi a primeira obra que publicou mas, inquestionavelmente, foi a mais importante.

Gutemberg começou a Revolução da Imprensa e sua obra é considerada por muitos a invenção mais significativa do segundo milênio.

Marshall McLuhan diz:  “Gutemberg transformou todos em leitores. A Xerox transformou todos em publicadores. Os computadores pessoais transformaram todos em autores e a internet transformou todos em editores e críticos”.

Com o advento dos computadores pessoais e da Internet, muitos diziam que em pouco tempo não haveria mais gráficas e nem editoras.

Mas as Eeditoras e as gráficas continuam!

Pode ser que muitos deixaram de ler em “papel” e passaram a ler na “forma digital”, mas o fato é que com as inovações e as novas tecnologias, a leitura ficou muito mais acessível a todos.

SETOR DE MEIOS DE PAGAMENTO

Dia 8 de fevereiro de 1949, Frank McNamara fez um jantar de negócios no restaurante nova-iorquino Major´s Cabin Grill. Quando a conta chegou, ele percebeu que havia esquecido a carteira.

Então, resolveu que deveria ser criada uma alternativa ao dinheiro vivo. Com seu advogado, Ralph Schneider, e o amigo Alfred Bloomingdale, MacNamara posteriormente desenvolveu o Diners Club Card.

O Dinners foi o primeiro cartão de crédito usado em larga escala.No ano 2000, já havia 1,43 bilhão de cartões de crédito somente nos Estados Unidos, e muitos diziam que em pouco tempo não haveria mais dinheiro vivo circulante.

Mas o dinheiro continua!

Pode ser que muitos tenham deixado de usar o “dinheiro vivo” e passaram a usar o “cartão”, mas o fato é que com as inovações e novas tecnologias, ficou muito mais fácil tanto “pagar” quanto “receber”.

NOVAS TECNOLOGIAS E A MOBILIDADE URBANA

É inevitável que a inovação e as novas tecnologias cheguem ao transporte e à mobilidade urbana, assim como foi para os outros setores.

O primeiro ônibus de passageiros surgiu na França. Foi na cidade de Nantes, em 1826. Era uma espécie de grande carroça com bancos de madeira e entrada traseira. Chamava-se Omnibus, que em latim significa “para todos”.

Em 1830, o britânico Sir Goldworthy Gurney desenvolveu uma carruagem longa movida a vapor. Em 1895, Karl Benzcriou o primeiro ônibus movido por um motor aexplosão, provavelmente o primeiro ônibus motorizado.

Mas, assim como as publicações impressas continuam sendo muito importantes para o setor editorial, bem como o dinheiro e a moeda corrente para o setor bancário, a mobilidade por ônibus e trilhos continuarão sendo os modos estruturantes dos transportesdas cidades.

A grande mudança que está ocorrendo na mobilidade urbana: é que, agora, o centro dos serviços de transportes está nas pessoas.

Hoje, o transporte coletivo não conecta apenas lugares, mas se conecta diretamente com os seus clientes através de dispositivos móveis e em tempo real.

Historicamente sempre dissemos aos nossos clientes e usuários:

Quer se mover pela cidade de transporte coletivo?

  • Ali é o ponto…
  •  Lá é a estação…
  •  Vai passar neste horário…
  •  Compre ali naquela bilheteria…
  •  Pague com este cartão…

Em um mundo cada vez mais digital, que empodera os consumidores conectados, determinar onde, quando e como as pessoas devem agir, é algo que precisa ser repensado.

A solução que algumas cidades encontraram foi a construção de plataformas de mobilidade integradas, baseadas no conceito de Mobility as a Service – MaaS. Clique para ver os casos de Helsinki, Estocolmo, Viena y Santa Mónica.

Pensar na Mobilidade como Serviço (MaaS) é, em sua essência, o conceito de “plataforma de mobilidade da cidade”, em que o passageiro encontra a opção de mobilidade mais adequada, com um planejador de viagem multimodal integrado que fornece informações em tempo real, faz reserva, o pagamento, a emissão dos bilhetes e serviços personalizados, dando assim ao passageiro a possibilidade de comparar opções multi-intermodais, e escolher o que é mais adequado.  

VIAGEM OU JORNADA?

Se a Amazon, que é uma empresa que vende e entrega coisas, é obcecada pela jornada do cliente, por que nós que cuidamos da mobilidade das pessoas – para que a mãe possa levar seu filho ao médico; para que trabalhador possa sair todos os dias para trazer o sustento para sua casa; para que o estudante possa ir estudar para se tornar alguém na vida – não deveríamos sê-lo?

Pensar na “jornada” é pensar nas pessoas bem antes de elas começarem a “viagem”, quando elas ainda estão em casa ou no trabalho, antes mesmo de elas abrirem o app ou  a plataforma de mobilidade.

Viagem está para a mobilidade urbana assim como a Jornada está para a mobilidade humana.

Só assim, colocando as pessoas no centro dos serviços de transportes,a Mobilidade Urbana será cada vez mais Humana.

Roberto Sganzerla – Especialista em Marketing de Transportes e Mobilidade Urbana, Mestrado em Liderança pela Andrews University – Berrien Springs, MI – USA; MBA em Gestão de Negócios e Liderança, Pós-Graduação em Marketing.

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