Categoria: Matérias
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Publicado em 24 jun 2019
13 minutos
Nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho de 2019, 8,5 mil pessoas estiveram na Unidade de Zacatenco do Instituto Politécnico Nacional, na Cidade do México, onde foi realizado o 11º Congresso Internacional de Transporte (#11ºCIT), um evento organizado pela Associação Mexicana de Transporte e Mobilidade (AMTM).
O # 11ºCIT teve como eixo fundamental o tema Inovação em mobilidade urbana, com o objetivo de incentivar políticas públicas específicas que atendam à necessidade de transporte público eficiente, limpo e confortável, e desestimulem o uso do automóvel, para reduzir os poluentes que este tipo de veículo gera.
No encontro, se falou sobre tecnologia, ações governamentais, operação e financiamento. Houve a participação de mais de 100 especialistas, incluindo 14 palestrantes internacionais, oito pesquisadores, 19 acadêmicos e representantes de seis montadores.
Entre os temas em foco estavam incluído estes: Análise de tráfego na Cidade do México, Pontos de acidentes e de mortalidade, A segurança no autotransporte, Futuro dos transportes, Tecnologia para o sistema de transporte público, Sistemas de transporte público sob concessão, Inovação social para a sustentabilidade social e Mudanças substanciais nos corredores de transporte público.
Na sessão de encerramento, foi entregue o Prêmio Nacional de Transporte Urbano e Mobilidade na categoria no Projeto de Pesquisa e Tese de graduação e Ensaio ao pesquisador Francisco Derbez, que apresenta uma avaliação da primeira troncal de Tuzobus, mediante a aplicação a conceito de valor público; e ao universitário Raymundo Arjona, cuja proposta é uma mudança no uso do espaço para o benefício da comunidade universitári ao propor eliminar a interação do carro.
PROJETOS PARA A CIDADE DO MÉXICO
Na sessão inaugural do congresso, ao lado do presidente da AMTM, Jesús Padilla Zenteno, a prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum Pardo, aproveitou o ambiente voltado ao debate sobre mobilidade urbana para comentar alguns dos projetos de seu governo dirigidos a esse setor.
A prefeita enfatizou o compromisso com a eletromobilidade na capital, como parte da estratégia chamada Mobilidade Integrada e Sustentável. Ela lembrou que o sistema de trólebus será resgatado na cidade, destacando que neste ano 40 unidades desses veículos foram adquiridas. “Há uma forma de transporte elétrico que já está comprovada na Cidade do México e em muitos outros lugares, e há uma grande virtude que tem o sistema elétrico na cidade, com os trabalhadores que se dedicaram a ele”, disse ela.
Ela reiterou que o objetivo é multiplicar esforços com esquemas de financiamento para ter um sistema inovador com trólebus em via elevada na Avenida Ermita Iztapalapa, mas fez questão de destacar que o governo não descartou a eletromobilidade de ônibus autônomos.
Dias antes, a prefeita declarou à imprensa mexicana que este projeto é baseado na ideia de que os trólebus circularão em via elevada, com estações determinadas para paradas ao longo de oito quilômetros, observando que é um projeto “muito inovador” , desenvolvido após o exame de diferentes opções. Segundo explicou, os trólebus em via elevada representam custos mais baixos do que o metrô, mas, mesmo assim, devem proporcionar um transporte mais rápido do que o possível na superfície.
Claudia Sheinbaun Pardo acrescentou que serão feitas mudanças no Sistema Metrobus (ônibus) para desenvolver novas linhas e melhorar sua eficiência e o financiamento dos concessionários do serviço.
A prefeita também mencionou o projeto Cablebús, que visa conectar as áreas da periferia ao centro da cidade; o primeiro será construído no município Gustavo A. Madero e durante as próximas semanas será licitado o Cablebús para Sierra de Santa Catarina no município de Iztapalapa.
Claudia Shinbaun Pardo também explicou que novos trens serão comprados para o Sistema de Transporte Coletivo (STC) e câmeras e sistemas de GPS serão instalados no transporte sob concessão.
SUBSÍDIO AO TRANSPORTE
O presidente da AMTM, Jesús Padilla Zenteno, disse que é preciso acabar com o mito de que não há viabilidade para subsídios de transporte. Disse também que deve haver incentivos fiscais para investimentos em transporte público, porque os estados “comem” o investimento em transporte e que os custos dos grandes desafios ainda precisam ser resolvidos e deve haver certeza para promover os novos projetos.
Jesus Padilla disse que, embora durante todos esses anos se tenha trabalhado na busca de soluções para o transporte público, houve uma agenda comum com as autoridades, mas estas não fizeram se importaram muito. Afirmou ainda que é necessário insistir na necessidade de investimento público em transporte, já que a mobilidade e o transporte são direitos humanos.
O líder fez um chamamento para que se dê hoje soluções aos problemas atuais de modo a fornecer respostas às gerações futuras. Ele enfatizou que a eletromobilidade deve ser considerada e que deve ser financeiramente auto-sustentável.
Jesús Padilla acrescentou que “se deve acabar com as desigualdades como o fato de um ônibus custar mais em uma cidade do que em outra dentro do mesmo país”. Ele chamou a atenção para o fato de que não é possível que as autoridades não tenham o mesmo esquema de trabalho para resolver problemas de transporte e que não há uma matriz energética definida para ajudar a fornecer transporte eficiente para as cidades.
SEGURANÇA PARA MULHERES
Outra sessão do congresso discutiu o tema da segurança para as mulheres nas ruas e no transporte público. Laura Ballesteros Mancilla, secretária técnica da iniciativa Women in Motion, do Centro para a Liderança Sustentável para as Mulheres, disse que as mulheres têm o direito à mobilidade, inclusão, mas acima de tudo o direito à segurança no transporte público.
Diante da pergunta ‘como é que vamos fazer cidades inclusivas?’, onde o assédio e a violência são uma imagem todos os dias, a deputada Maria del Pilar Lozano Mac Donald, presidente da Comissão de Desenvolvimento Metropolitano, Urbano, Ordenamento do Território e Mobilidade; a senadora Verônica Delgadillo Garcia, secretária da Comissão de Desenvolvimento Metropolitano e Bem-Estar Social do Senado, e a deputada Ana Lilia Herrera, secretária da Comissão de Desenvolvimento Metropolitano, Urbano, Ordenamento do Território e Mobilidade, concordaram que “vivemos (as cidades) de maneira diferente” em comparação com os homens, porque as mulheres têm que cuidar de si quando vão trabalhar, quando levam os filhos para a escola, quando vão às compras, quando se aproximam do transporte ou quando andam pelas ruas escuras.
Com as estatísticas à mão e ao falar sobre as diferenças no uso do espaço público projetado para os homens, a senadora Verónica Delgadillo mencionou que nove em cada dez mulheres já foram assediadas no espaço público; no México, 99 crimes sexuais são relatados todos os dias; além disso, 33 casos de assédio sexual são relatados todos os dias. “Para nós, estar em um espaço público representa um risco”, disse ela.
Ana Lilia Herrera considerou que nas cidades se vivede forma diferente de acordo com o gênero. “As autoridades devem tomar medidas sobre o assunto, devem elaborar políticas de mobilidade e políticas que nos dêem segurança no espaço público, incluindo o transporte, que nos permitam a nós, mulheres, exercer plenamente nossos direitos. A perspectiva de gênero na concepção desta cidade tem que estar presente, porque se não o espaço público em si continuará a gerar desigualdade”.
Falando das 15 cidades mais seguras, María del Pilar Lozano comentou que Nova York é a mais confiável, enquanto a Cidade do México está em último lugar, então ela pediu a criação de uma lei contra o assédio contra mulheres e criação de uma procuradoria especial para a defesa dos usuários de transporte público.
Da mesma forma, também disse: “Precisamos da ajuda de todos, porque sempre somos em algum momento usuários de transporte, e não apenas aqueles que temos carros ou bicicletas. Também usamos o metro, ônibus, Metrobus; temos de criar esta cultura de respeito, sobretudo para as mulheres e as novas gerações, que também são usuárias do transporte”.
Três especialistas brasileiros
Três brasileiros participaram como expositores do 11º Congresso Internacional de Transportes (11ª CIT), Jurandir Fernandes, presidente da Divisão Internacional de Transporte Público – América Latina (UITP / DAL); Sergio Avelleda, diretor de Mobilidade Urbana do WRI Ross Center for Sustainable Cities, e Roberto Sganzerla, especialista em Marketing de Transporte e Mobilidade Urbana.
Inovação. Roberto Sganzerla fez duas apresentações durante o #11ºCIT; na primeira, em 30 de maio, ele falou sobre o tema Inovação e Mobilidade Humana e, em 1º de junho, sobre Marketing em Transportes.
Na primeira apresentação, Sganzerla começou lembrando que, nesta época, a tecnologia mudou a maneira de se relacionar e se comunicar, pois, o que costumava ser vertical e exclusivo, agora é horizontal e social; o poder não é mais individual, mas ‘coletivo/conectado’.
Ele exemplificou as mudanças do tradicionalismo para as massificações com Amazon, Netflix e Spotify. E mostrou um estudo que fez o qual revelou que diferentes dispositivos tecnológicos demoraram tempos diversos para atingirem 50 milhões de pessoas, tendo como extremos o telefone com 75 anos, e PokemonGo, com 19 dias.
E continuou com os exemplos da digitalização dos produtos, apontando a marca suíça Mavala, que,por meio da coleta de informações através do Facebook, conseguiu descobrir qual era a cor ideal do esmalte para as mulheres jovens. “A inteligência coletiva está marcando o curso do novo mundo”, disse ele.
A mudança que está ocorrendo nos meios de transporte não é a modificação de estruturas, mas o fato de que a pessoa está sendo colocada no centro dos serviços de transporte. A pessoa deve ter a opção de decidir como quer se mudar e parar de indicar que tipo de veículo deve usar e como deve pagar. Tudo dentro do transporte público.
Ele também assinalou que a era da experiência está terminando e que está começando a era do propósito. Portanto, o transporte deve seguir esse mesmo caminho e focar no propósito do transporte.
Inteligência coletiva. Após a exposição de Sganzerla, falou Jurandir Fernandes, que por duas vezes foi secretário de Transporte Metropolitano do Governo do Estado de São Paulo e atualmente é o presidente da Divisão Latino-Americana da União Internacional de Transporte Público, UITP; Ele apresentou o tema Século XXI: Tendências e Desafios na Mobilidade Urbana.
Jurandir Fernandes antes de falar do futuro iria marcar suas bases no passado, a partir do uso do cavalo no século XIX para saltar até hoje, com o domínio eminente do automóvel nas cidades latino-americanas, e culminando com os investimentos do futuro: veículos autônomos e veículos sob controle remoto.
Ele mencionou 2 bilhões de carros que estão estacionados a maior parte do tempo, mas novas tecnologias geraram a idéia de compartilhamento, com a introdução de bicicletas e skates como sistemas de transporte. É novamente a inteligência coletiva agindo.
Três estratégias. No segundo dia do congresso, Sergio Avelleda, ex-secretário de Transporte São Paulo e atual Diretor de Mobilidade Urbana Centro for Sustainable Cities WRI Ross, desenvolveu o tema Rumo a uma Cidade de Iguais: Desafios e Oportunidades.
Avelleda disse que o acesso da população à mobilidade nas grandes cidades passa por três estratégias que são vitais hoje: 1) Projetar e adaptar cidades com pedestres e ciclistas em mente; 2) Desenvolver sistemas integrados de transporte; 3) Realizar um trabalho de gerenciamento para desencorajar o uso de carros particulares.
De acordo com Sergio Avelleda, mais cedo ou mais tarde, será inevitável a aplicação de impostos sobre a utilização do automóvel particular para desencorajar o seu uso, já que o custo para aqueles que não possuem é muito alta saturação das rotas que aumenta os seus tempos de transferência por exemplo, para trabalhos. A proporção é que, para quem precisa usar o transporte urbano, pague 10 vezes mais do que quem usa o carro particular.
Estar diante de uma cidade com um tráfego muito sério – disse o especialista – é como estar na frente de um corpo com febre. O mal não é febre, com febre o corpo está nos dizendo que tem um mal, mas o mal reside naquilo que o está causando; no caso das cidades é que foram pensadas para o automóvel e que o pedestre só olhava; mas agora o crescimento das cidades tornou as estradas insuficientes. Em São Paulo, foi criada uma solução que criava corredores para pedestres próximos às avenidas saturadas de automóveis.
Sergio Avelleda disse que um transporte urbano eficiente contribui para uma melhor qualidade de vida. Ele mencionou que na Cidade do México, a transferência de uma pessoa para o seu trabalho envolve mais de uma hora. Em São Paulo, aqueles que moram em uma área da cidade com acesso a seu trabalho têm uma expectativa de vida de 80 anos, enquanto aqueles que vivem com um emprego à distância têm uma expectativa de vida de 55 anos.
Melhor época para promover o transporte público. No último dia, 1º de junho de Roberto Sganzerla falou sobre Transporte Marketing e afirmou em razão dos aspectos mercadológicos, nunca houve um melhor momento para promover o transporte público, porque o transporte público contribui para a mobilidade urbana, para cidades tornarem-se mais sustentáveis e para o planeta respirar melhor.
Ele apresentou o projeto de Marketing Integrado e Mobilidade de Brasília, a capital federativa do Brasil. Esse projeto que foi escolhido pela UITP como um dos dez melhores da América Latina no Programa de Melhores Práticas; o anúncio dos três melhores projetos estava previsto e de fato ocorreu em 10 de junho de 2019, no Congresso da UITP em Estocolmo.
O especialista citou Cledorvino Belini, em uma entrevista a revista brasileira Época Negócios publicada há alguns anos, quando ainda era presidente da Fiat Grupo Chrysler para a América Latina: “Precisamos melhorar o transporte público e deixar o carro siga sua verdadeira vocação, o passeio (…) Temos que ampliar o transporte de massa (…) A mobilidade é ter mais ônibus e menos carros na rua (…) O carro deve ser algo para sair com a família, viajar para outros lugares”.
No final, Roberto Sganzerla comentou: “Isso quer dizer que, se não promovermos o transporte coletivo, talvez outros setores tenham que fazê-lo”
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