Categoria: Matérias
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Publicado em 13 jun 2018
9 minutos
Em São Paulo, Brasil, terceira edição do encontro Frotas Conectadas, promovido pela OTM Editora, discutiu inovação, eletromobilidade, blockchain, bitcoin, indústria 4.0, veículos conectados, autônomos e compartilhados.
A terceira edição do Frotas Conectadas, promovido pela OTM Editora, reuniu empresários, especialistas e profissionais das áreas de transportes, logística e tecnologia, em 22 e 23 de maio, no Parque Tecnológico da Universidade de São Paulo (USP). Durante os dias, foram discutidos temas como inovação, eletromobilidade, blockchain, bitcoin, indústria 4.0, veículos conectados, autônomos e compartilhados. “Os carros autônomos irão chegar ao Brasil, apenas não sabemos quando. Em 2040, 40% da frota mundial deverá formada por eles, o que vai transformar a sociedade que conhecemos. Hoje, já percebemos, inclusive na América Latina, que o transporte passou a ser visto como serviço e as mudanças já começam a acontecer”, diz Peter Kronstrom, diretor do Copenhagem Institute for Future Studies.
Segundo Edson Kitani, da Fatec, a principal barreira para que os veículos autônomos se tornem realidade no Brasil é a legislação. “O país precisa começar a discutir os aspectos legais deste tipo de inovação. Outro fator que impede os avanços das novas tecnologias ligadas à mobilidade é a infraestrutura. Quando pensamos em veículos elétricos, sabemos das dificuldades em termos de energia”, lembra. “Por que o carro autônomo se tornará uma realidade? Por questões de segurança, afinal a maior parte dos acidentes é causadas por falha humana, portanto, é lógico que se pense em reduzir essa lacuna”, complementa Leimar Mafort, da Bosch.
A Volvo Trucks apresentou no ano passado o VM Autônomo, um caminhão desenvolvido especificamente para auxiliar no processo da colheita de cana-de-açúcar. O modelo foi projetado para eliminar a perda de produtividade provocada pelo pisoteamento de soqueiras (brotos) pelo caminhão durante a colheita da cana, fator responsável por prejuízos que giram em torno de 12% da produção anual de cana-de-açúcar. O caminhão autônomo, sozinho, elimina 4% dessa perda. “É um tipo de operação que necessita de grande precisão. Para os motoristas, é uma atividade de muita dificuldade. Já o veículo autônomo propicia a segurança necessária”, diz Luiz Balcewicz, gerente de Projetos da Volvo.
Durante o encontro, a Ford Caminhões anunciou um pacote inédito de tecnologia, conectividade e serviços para modelos da linha Cargo, que estará disponível no mercado no último trimestre deste ano. Chamado Ford Connect, o novo produto inclui central multimídia com tela de sete polegadas e serviço completo de telemetria e rastreamento Fordtrac, além de contrato de manutenção por quilômetro rodado Ford Service. Seu objetivo é dar total apoio à produtividade e segurança do transportador com o uso de novas tecnologias. “A Ford está desenvolvendo um ecossistema conectado para o transporte”, explica o gerente nacional de Vendas e Marketing da Ford Caminhões, Oswaldo Ramos.
O pacote Ford Connect poderá ser instalado em todos os caminhões médios, semipesados e pesados da linha Cargo a partir do modelo 2015. Ramos também falou sobre as novas tecnologias inteligentes de conectividade e direção semiautônoma desenvolvidas pela marca. “O veículo autônomo vai chegar ao Brasil, mas de forma gradativa. A infraestrutura vai se adaptar à medida que as novidades conquistarem o mercado. Nos próximos anos, as tecnologias irão evoluir, voltadas para produtividade e segurança”, acredita.
Outro destaque foi a divulgação da pesquisa Perfil das Transportadoras Brasileiras 2018, uma pesquisa que fez 387 entrevistas com gestores das empresas do setor, sendo que 52% delas eram pequenas ou médias. No que se refere à tecnologia, alguns resultados são surpreendentes: 43% das companhias ouvidas não utilizam ERP (sistema integrado de gestão empresarial) e 31% nem sequer sabem do que se trata; 44% não usam ou não conhecem WMS (sistema de gerenciamento de armazém); e 45% das transportadoras não selecionam motoristas autônomos por sistemas Web, sendo que 43% ainda utilizam planilha ou contatos. “As empresas do setor precisam conhecer melhor as tecnologias disponíveis para melhorar a produtividade e dar mais agilidade ao negócio”, explica Fernando Deotti, diretor do Ipsos, instituto responsável pela pesquisa.
ELETROMOBILIDADE
A Eletra é uma empresa nacional que atua desde 1988, e hoje produz ônibus elétricos puros (a baterias), híbridos (motor gerador e baterias) e trólebus (que utiliza rede aérea). “Toda a cadeia produtiva envolvida na fabricação dos veículos elétricos é desenvolvida no Brasil, com exceção das baterias. Mas isso deve mudar. No segundo semestre, teremos um player local produzindo baterias”, afirma Ieda Maria Oliveira, gerente comercial da companhia. A executiva destaca a necessidade de políticas públicas que incentivem a produção a eletromobilidade. “O governo precisa dar apoio à indústria brasileira, principalmente em áreas estratégicas como essa”.
O Dual Bus é um novo conceito de ônibus elétrico, desenvolvido pela Eletra, em que sistema padronizado de tração, que pode ser alimentado por várias fontes de energia. O mesmo ônibus pode circular em duas configurações diferentes: híbrido ou trólebus e híbrido ou elétrico puro. Lançado em 2013, o E-Bus é o primeiro ônibus elétrico brasileiro movido totalmente a bateria, resultado de uma parceria com Mitsubishi Heavy Industries e Mitsubishi Corporation. A tecnologia de tração elétrica da empresa está presente também no e-Delivery, um caminhão elétrico da Volkswagen.
Em 1999, a Eletra lançou o primeiro ônibus híbrido operacional do mundo. O modelo utiliza motor elétrico com duas fontes de energia: um conjunto motor-gerador a diesel e um grupo de baterias. O sistema de tração é semelhante ao de um trólebus comum. A diferença é que, em vez de buscar eletricidade na rede externa, ele gera a sua própria energia a bordo. O motor elétrico é o responsável pela tração nas rodas, e o conjunto motor-gerador gera a energia necessária para pôr o veículo em movimento. A redução no consumo de combustível pode chegar a 30%. “Isso é possível por cauda do sistema de regeneração”, diz Oliveira.
A Mobilis é uma startup de Santa Catarina que desenvolve soluções para mobilidade, baseadas na tração elétrica. A empresa se prepara para lançar no mercado nacional um modelo de carro elétrico, com autonomia de 100 quilômetros. “O veículo é conectado, contando com sistema de gerenciamento de frota e de diagnóstico. Já estamos comercializando um protótipo para ser usado em condomínios, um tipo de ‘carro vizinhança’, que está sendo testado para ser utilizado em atividades de segurança e manutenção. É um modelo mais simples”, informa Mahatma Marostica, um dos sócios da Mobilis.
O carro, que na versão “vizinhança” não tem portas, foi desenvolvido para uso urbano, sendo que ergonomia, cinto de segurança, faróis e toda a sua configuração estão de acordo com as normas do Contran. O modelo para uso urbano será bastante semelhante. “As principais diferenças é que ele terá um motor mais potente e vai ter portas e ar-condicionado. O carro para usos nas ruas está em processo de homologação”, informa Marostica. O veículo elétrico, que transporta duas pessoas, deve estar no mercado já no próximo ano.
CARROS CONECTADOS
A Ticket Log, marca da Edenred Brasil, que atua no setor de gestão de frotas e de mobilidade para o mercado urbano, apresentou soluções e cases relativos ao tema. Segundo a gerente regional de Vendas, Roberta Grillo, o Log&Go é uma funcionalidade da Ticket Car, que tem como proposta possibilitar, além do pagamento de combustível e de manutenções leves, a utilização do saldo também em outros modais de mobilidade. Grillo também abordou os conceitos de multimodalidade e multimobilidade, destacando as inovações que já estão se tornando realidade em outros países. “Em Dubai, em um prazo de cinco anos, teremos helicópteros autônomos funcionando como táxis. Temos que estar atentos à evolução tecnológica”, diz.
A Sascar, empresa do Grupo Michelin e especializada em gestão de frotas e monitoramento de veículos de carga, tem como foco fortalecer sua atuação na América Latina. “Nosso objetivo é democratizar a conectividade, dando condições para que as pessoas e as empresas tenham capacidade para usar a tecnologia a seu favor”, diz Pedro Chaves, diretor da companhia. A Sascar tem 60 mil clientes e mais de 250 mil veículos conectados por meio da plataforma da marca. “O monitoramento também é fundamental para a prevenção de acidentes”, completa.
A empresa disponibiliza ferramentas como o serviço com relatórios inteligentes para que o cliente consiga fazer a gestão apenas nos pontos críticos da sua frota; TMS Sascar, uma solução que une todas as regras e documentos da operação com a tecnologia de monitoramento, em uma única plataforma; e a Michelin Gestão de Frotas para melhorar a eficiência de veículos leves, contribuindo para prevenção de acidentes e redução de custos.
A Mercedes-Benz apresentou o FleetBoard, uma ferramenta para gestão de frotas que promete aumentar a produtividade dos veículos. Érico Fernandes, gerente de Vendas e Marketing da montadora, ressaltou a importância de que as empresas estejam aptas a utilizar da melhor forma a tecnologia disponível no mercado. “Acredito que o próximo passo aqui no Brasil é exatamente no sentido de ajustar o uso da tecnologia. Muitas empresas adotam várias soluções, até por exigência do mercado, mas se perdem em meio a tanta informação”, diz.
A Scania também mostrou suas soluções para conectividade de veículos, monitoramento da frota e novos planos de manutenção customizada. No mundo, a empresa já tem 350 mil veículos conectados e, no Brasil, dez mil já aderiram à tecnologia da marca. “Nosso objetivo não é simplesmente gerar dados para o cliente: queremos entregar maior rentabilidade”, afirma Fábio Souza, diretor de Serviços Scania. “Ajudamos a empresa a reduzir o consumo de combustível, por meio de análises de desempenho e treinamento dos motoristas, além de possibilitar maior disponibilidade dos veículos devido aos planos de manutenção sob medida para a necessidade do cliente”, diz.
Márcia Pinna Raspanti
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