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Pesquisa feita por entidades do setor privado aponta problemas do transporte público por ônibus no Brasil

Categoria: Radar

Publicado em 1 fev 2018

6 minutos

Pesquisa feita por entidades do setor privado aponta problemas do transporte público por ônibus no Brasil

Os resultados do estudo podem ajudar gestores, operadores e especialistas em outros países latino-americanos

Foi recentemente divulgada a Pesquisa Mobilidade da População Urbana 2017 elaborada em conjunto pela Associação Nacional das Empresas Transportes Urbanos (NTU), entidade que representa o setor empresarial privado de transporte por ônibus, e pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), entidade sindical patronal.

Os questionários foram aplicados entre 12 a 23 de junho de 2017. Os resultados podem ser livremente examinados em publicação virtual em português disponível no site da NTU e acessível por meio de link ao final desta notícia.

UMA LISTA DE PROBLEMAS

O caderno que apresenta os dados da pesquisa tem 100 páginas, incluindo as capas. Há um capítulo introdutório seguido de outro que traz um rápido panorama da mobilidade urbana no país. A apresentação dos dados, com gráficos e tabelas, ocupa mais da metade da publicação. Ao todo, são apresentadas informações referentes a cerca de uma centena de aspectos e questões inseridas na pesquisa; trata-se de uma leitura imprescindível para quem atua no setor.

São descritas questões metodológicas e o perfil sócio-econômico dos entrevistados. Destaca-se que o público alvo da pesquisa é a população residente em municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. Essa faixa, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) para 2016, abarca 309 municípios, com um total de 116.140.693 habitantes, ou 56,3% da população brasileira.

A pesquisa considerou pontos como padrões de mobilidade, distância e duração média das viagens, posse de veículo, frequência dos deslocamentos, gastos com o uso do transporte, motivos de viagem, modos de transporte utilizados, quantidade de conduções utilizadas, substituição do ônibus e temas relacionados com o financiamento e planejamento do transporte público, incluindo gratuidades e descontos, vale-transporte e Plano de Mobilidade Urbana. Cada um desses pontos traz aspectos importantes para operadores e gestores.

Uma das questões levantou informações referentes aos problemas do transporte público, com destaque para os seguintes tópicos: ‘preço elevado das passagens’ (65,5% das menções), ‘insegurança e violência’ (55%), ‘pouco conforto’ (44,9%), ‘elevado tempo de viagem’ (28,8%), ‘baixa confiabilidade/atrasos’ (26%), ‘falta de flexibilidade dos serviços – rotas e horários’ (22,3%), ‘falta de integração com outras linhas de transporte público’ (19,4%), ‘dificuldade de acesso ao transporte público’ (9,7%), falta de informações sobre o serviço’ (9,7%), ‘falta de prioridade do ônibus no sistema viário’ (4,4%), ‘cobertura restrita do sistema’ (3,5%) e ‘opções limitadas de pagamento’ (3,4%).

OBSTÁCULOS ESTRUTURAIS

Na parte de interpretação dos dados, a pesquisa aponta obstáculos estruturais ao transporte e ao desenvolvimento das cidades.

Um dos pontos de entrave está na política de incentivo ao transporte individual motorizado, que favorece os congestionamentos, poluição e aumento do número de acidentes de trânsito.

Outro aspecto diz respeito ao modelo de planejamento no setor, que não previu o redimensionamento e nem tampouco a necessidade de racionalização dos sistemas de transporte.

A análise sublinha que a regra no país é as tarifas serem pagas exclusivamente pelos usuários, o que tem limitado maior investimento para melhorar a qualidade dos serviços e o aumento dos índices de conforto.

Outra questão significativa está no modelo de desenvolvimento marcado por um rápido processo de urbanização, que trouxe como resultado um padrão urbano em que as pessoas de mais baixa renda são obrigadas a buscar moradias em bairros mais distantes, onde o custo do terreno ou do aluguel é mais acessível, o que impõe a elas a necessidade de realização de longos deslocamentos.

O relatório assinala ainda que é tradicionalmente limitado o nível de participação da sociedade brasileira na construção das políticas urbanas, faltando à sociedade o entendimento do processo e suas implicações; de modo geral, as discussões, análises e decisões sobre questões urbanas são dominadas e assumidas por técnicos.

APONTANDO SOLUÇÕES

A pesquisa indica soluções para os entraves e distorções apresentados anteriormente.

Um ponto é a priorização do ônibus, que consiste na destinação de recursos para investimento em projetos estruturantes e de qualificação de sistemas de transporte público por ônibus; a solução apontada é a implantação de sistemas de BRT, corredores e faixas exclusivas.

A análise indica que, nos últimos dois anos, verificou-se uma redução significativa da quantidade de projetos de transporte concluídos, e frisa que a perenidade da disponibilização de recursos para investimentos é essencial para a mobilidade urbana sustentável.

Outro aspecto considerado importante é a qualificação das redes de transporte. A publicação assinala ser necessária a implantação de redes de transportes modernas, integradas, multimodais, racionais e de alto desempenho.

Paralelamente, deve haver redefinição do planejamento da oferta de serviço, de modo a torná-la mais flexível para os usuários em relação ao acesso, utilização e pagamento – mudança apontada com uma condição para captação e recuperação de demanda.

É recomendada a definição de novas fontes de custeio dos serviços de transporte público, sublinhando como “urgente” a superação da tarifa como única alternativa de financiamento.

O texto assinala que outras fontes de financiamento do transporte são largamente utilizadas em outros países, mas pouco usadas no Brasil.

Tais fontes incluem, além da sociedade como um todo, com subsídios garantidos com recursos públicos via orçamento, também a contribuição de segmentos específicos, entre os quais os usuários e os proprietários de automóvel, o setor produtivo e proprietários de imóveis, e, ainda, o esforço para obtenção de receitas agregadas, entre outras.

Outra recomendação diz respeito à qualificação técnica, via promoção da formação e capacitação de profissionais para atuação no planejamento, operacionalização, monitoramento e avaliação de projetos de mobilidade urbana; na análise, essa é apontada como a principal maneira de garantir efetividade no cumprimento das diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Por fim, é indicada a adoção de ações de educação com base nos princípios da mobilidade urbana. Nesse caso, a ideia é que as administrações públicas e a própria sociedade estejam atentas e empenhadas nos processos de educação sobre os princípios da mobilidade urbana e participação no planejamento, fiscalização e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, processos que devem ser promovidos também mediante órgãos colegiados da sociedade civil.

Baixe a pesquisa

 

 

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