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Crescimento de países da América Latina é positivo para a indústria brasileira de equipamentos para transporte

Categoria: Radar

Publicado em 1 jan 2018

8 minutos

Crescimento de países da América Latina é positivo para a  indústria brasileira de equipamentos para transporte

Fabricantes brasileiros de equipamentos para transporte fecharam 2017 com perspectivas razoáveis em relação a 2018 e atribuem parte desse otimismo ao fato de outros países latino-americanos estarem se saindo bem na gestão de suas economias

Reunidas em um único e multifacetado sindicato empresarial, liderado pelo representante da companhia fabricante de ônibus Marcopolo, José Antônio Fernandes Martins, as empresas brasileiras de equipamentos para transporte fecharam o ano de 2017 com perspectivas bastante razoáveis em relação a 2018 e creditaram parte desse moderado otimismo ao fato de outros países latino-americanos estarem se saindo bem na gestão de suas respectivas economias. O setor reúne fabricantes de ônibus e implementos rodoviários, veículos e equipamentos ferroviários (incluindo carros de passageiros, vagões de carga e locomotivas), além de motocicletas e bicicletas.

Os resultados foram oficialmente apresentados no final de novembro de 2017, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), situada em um os arranha-céus da Avenida Paulista, em São Paulo, durante o Encontro Técnico e de Relacionamento promovido pelo Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários, mais conhecido no Brasil por sua sigla, SIMEFRE.

ECONOMIA MELHOR

No encontro, houve uma exposição do economista Antônio Lanzana, da Universidade de São Paulo, que traçou um cenário positivo da economia como um todo e para o setor industrial em particular. O professor avalia que o cenário internacional – América Latina incluída – esteja favorecendo o Brasil.

Ele sublinhou que a economia mundial cresceu mais em 2017 e continuará com essa tendência em 2018 – saiu de 3,2% de crescimento ao ano em 2015 e 2016 e apresentava no final de novembro projeções de crescimento de 3,6% para 2017, e de 3,8% para 2018, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Outros fatores considerados na análise são o excesso de liquidez internacional, com uma maior disposição do investidor de correr risco. “Está em vigor uma política monetária expansionista na Europa, Japão e Reino Unido, com juros reais negativos nessas regiões, havendo, assim, recursos em busca de alternativas, o que favorece os emergentes e, conseqüentemente, o Brasil”.

Ainda com base em dados do FMI, o especialista observa que, sobretudo a partir de 2011, a China vem desacelerando sua economia de forma consistente, gradativa e controlada – ou seja, dentro de certa previsibilidade, sem sobressaltos. O processo trouxe retração do índice de crescimento de 9,2% no primeiro ano da década para 6,7% em 2016, com projeção de novo crescimento – de 6,8% – em 2017, e nova redução, para 6,5%, em 2018.

O professor Lanzana também incluiu como fator significativo a aceleração do crescimento em outros países importantes da América Latina, deixando de lado a Venezuela, que vive, em suas palavras, “uma crise profunda”, com retração de 16,5% em 2016, sendo esperadas novas quedas em 2017 e 2018, respectivamente, de 12%, e de 6,0%.

“A Argentina mudou a política econômica e voltou a crescer em 2017; a recessão de 2016 é o custo de corrigir os erros”, disse o economista ao mostrar que o país deixou para trás uma retração de 2,2% em 2016 para atingir crescimento estável previsto em 2,5% tanto para 2017 como para 2018.

De acordo com o professor, os países da Aliança do Pacífico “vão bem”. Ele deu números referentes aos quatro países que fundaram o bloco em 2012 (a Costa Rica foi incorporada em 2013). Todos eles tiveram crescimento positivo em 2016 e têm boas perspectivas para 2017 e 2018.

O Chile havia crescido 1,6% no ano passado, tem projeção de crescimento de 1,4% no presente exercício e um crescimento melhor – de 2,5% — para 2018.  A Colômbia cresceu 2,0% em 2016 e tem perspectivas de crescer 1,7% em 2017 e 2,8% no próximo ano. O México apresentou crescimento de 2,3% no ano passado e deve fechar 2017 com crescimento de 2,1% e 2018 com crescimento de 1,9%. O Peru cresceu 4,0% em 2016, deverá apresentar crescimento 2,7% em 2017 e um resultado melhor – crescimento de 3,8% – em 2018.

ARGENTINA PODE AJUDAR INDÚSTRIA DE TRENS DO BRASIL

Os fabricantes brasileiros de ônibus, de implementos rodoviários e de peças disseram esperar bom crescimento em 2018; embora mais cautelosos, os fabricantes de bicicletas e motocicletas, que relataram estabilidade no presente exercício, também acreditam que 2018 será melhor. Essencialmente, todos esses segmentos crêem que os avanços se darão principalmente por razões internas, decorrentes da recuperação da economia brasileira.

No encontro, ficou evidente que a indústria brasileira de equipamentos ferroviários sofre com as elevadas oscilações nas encomendas, como acentuaram os dirigentes do setor Luiz Fernando Ferrari, vice-presidente do SIMEFRE, e por Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER).

Os volumes de produção e entrega de veículos ferroviários em 2017 serão menores do que os de 2016. De acordo com Vicente Abate, deverão ser entregues 2.900 vagões de carga – 400 deles antecipados de 2018 (contra 3.903 entregues em 2016); 81 locomotivas (contra 109 em 2016), e 310 carros de passageiros (contra 473 em 2016). “É uma expressiva queda – da ordem de 30% – em todos os tipos de veículos”.

O dirigente acrescentou que esses números incluem o volume exportado: 88 carros de passageiros para Argentina, Chile e África do Sul. Materiais como rodas, truques e grampos foram exportados, porém em volumes menores, devido ao câmbio médio valorizado em relação a 2016.

Quanto aos carros de passageiros, não ocorreu nenhuma nova encomenda em 2017. Houve apenas uma concorrência no Brasil, de oito trens para a Linha 13 – Jade, da CPTM – ligação com o Aeroporto de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo – , vencida por um fabricante chinês.

Quando todos os números estiverem fechados, o faturamento total do setor em 2017 se mostrará inferior ao de 2016, que alcançou o patamar de R$ 6,6 bilhões (USD 1,96 bilhão, em valores de novembro de 2017). Dessa forma, haverá uma queda, depois de dez anos contínuos de crescimento.

Redução de empregos. “Diante deste quadro, os fabricantes de carros tiveram que reduzir significativamente a mão-de-obra empregada em suas respectivas empresas. Tal redução só não foi mais dramática devido às exportações em curso e à execução de serviços de modernização de trens e fabricação de fabricação de carros remanescentes de contratos nacionais que se encerrarão em 2018”, explica o vice-presidente do SIMEFRE, Luiz Fernando Ferrari.

O dirigente destaca que estão previstas para 2018 a retomada das obras da Linha 6 – Laranja e, talvez, o início das obras da Linha 18 – Bronze, ambas do Metrô-SP, além do lançamento do Trem InterCidades – TIC, no trecho São Paulo a Americana, e de uma possível licitação do Trem Goiânia a Brasília. Todos esses projetos gerarão importantes encomendas para a indústria brasileira nos próximos anos.

Argentina pode ajudar. Segundo outro dirigente do setor ferroviário brasileiro, Ricardo Ochoa, há grande expectativa de a indústria nacional de carros de passageiros participar em 2018 – com o apoio do governo federal brasileiro, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – de licitação na Argentina para o fornecimento de 1.352 carros.  Ele afirma que esta licitação será uma das maiores do mundo nos últimos tempos, sendo o financiamento do BNDES crucial para que as empresas brasileiras tenham sucesso.

Prorrogação de licitações. Para 2016, um melhor desempenho da indústria de vagões de carga, locomotivas e materiais para via permanente dependerá da continuidade dos investimentos das concessionárias Rumo, VLI, MRS e Vale. Essas empresas continuam negociando com o governo a renovação antecipada de seus contratos, que vencerão em dez anos.

“É de vital importância que as assinaturas de todos os contratos de renovação ocorram até o primeiro trimestre de 2018. Caso isso não aconteça, poderá haver mais perda de mão de obra na indústria, assim como atrasos significativos nos investimentos planejados pelo setor, pois os volumes de vagões e locomotivas serão os mais baixos dos últimos anos”, ressalta Abate.

A produção e entrega de veículos para 2018 continuará em queda. Estima-se que sejam entregues 298 carros de passageiros (94 para exportação), somente 60 locomotivas e entre 2.000 e 3.000 vagões. “Os 3.000 vagões e as 60 locomotivas somente serão possíveis se as renovações das concessões no setor de cargas acontecerem até o primeiro trimestre de 2018”, concluiu Vicente Abate. Por Alexandre Asquini.

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